09-12-2011 PRODUÇÃO DE LEITE: MUDAR DE ANO, MUDAR DE VIDA!
2011 foi um ano de permanentes dificuldades económicas para os produtores de leite. Na sequência de 2010, sofremos com os preços elevados das matérias-primas para alimentação animal, devido à crescente procura mundial de alimentos agravada pela especulação no mercado que nenhum governo teve coragem de enfrentar. Sofremos também com a impossibilidade de reflectir no preço de venda do leite à indústria esse e outros aumentos dos custos de produção, como combustíveis e adubos. Daí resultou o desânimo e o abandono da produção, ao ritmo de mil produtores por ano.
Apesar desse abandono de produtores, tem sido possível manter a produção ao nível das necessidades do país, mas aumentaram as dívidas aos bancos e a fornecedores. Recentemente, calculámos que nos primeiros nove meses de 2011 os produtores de leite portugueses perderam 40 milhões de euros, considerando que vendemos o leite a um preço médio de 31 cêntimos/kg (dados do GPP do MAMAOT para o continente) e tivemos um custo estimado de 34 cêntimos/kg (estudo publicado na revista “Produtores de leite” nº4). Estimamos que as dívidas a fornecedores ultrapassem já 100 milhões de euros.
Apesar de todos os alertas e apelos que lançámos, apesar das dificuldades dos produtores serem conhecidas e incontestáveis, apesar de se sucederem falências, abandonos de produção (conhecemos vários casos de produtores holandeses que abandonaram o pais no último ano), os produtores portugueses tiveram apenas um cêntimo/litro de aumento em Setembro passado e temos indicações que esse cêntimo cai no final do ano. É um triste presente de natal para produtores que chegam a trabalhar 80 horas por semana, de 2ª a Domingo, 365 dias por ano…
Historicamente, tivemos em Portugal um preço ao produtor ligeiramente superior à média comunitária, mas nos últimos dois anos passamos para a cauda da Europa, como mostram os dados sucessivamente apresentados pela comissão europeia. Assim a produção definha em Portugal e aumenta no norte da Europa, com forte exportação para os países emergentes. Queremos aqui renovar este alerta: com esta margem, a produção de leite não tem futuro em Portugal. No rumo actual, caminhamos para o abismo.
Face à situação actual, apresentamos um conjunto de propostas para a necessária mudança de vida:
– Apelamos a uma maior participação dos produtores na gestão das organizações que recolhem, transformam e comercializam o leite produzido, organizações que lhes pertencem, que foram criadas e apoiadas para obter “valor para produtor”, exigindo uma gestão rigorosa e prudente nos investimentos executados e negócios desenvolvidos.
– Propomos uma atitude mais construtiva no relacionamento indústria / distribuição, de modo a ultrapassar as dificuldades do passado e enterrar o machado de uma guerra feroz, antipatriótica e esmagadora de margens. A produção agrícola em Portugal não terá futuro sem uma justa valorização no mercado, que permita cobrir os custos de produção.
– Exigimos uma acção mais efectiva e célere do Governo. É positivo que tenha ocorrido a primeira reunião da PARCA – Plataforma de acompanhamento das relações na cadeia agro-alimentar, mas é sobretudo preocupante o tempo que pode demorar até que surja algum resultado concreto, e duvidosa a aplicação prática que qualquer conclusão da comissão possa ter. Renovamos o alerta: São muitas explorações leiteiras com grande dimensão, com centenas de animais cuja situação económica não permite esperar muito tempo por resultados. É tempo de agir!
– É urgente preparar o sector para o fim (anunciado como irreversível) das quotas leiteiras e estudar a reforço do poder negocial dos produtores através da implementação de contractos, organizações de produtores e reforço da organização interprofissional.
– Por último, enquanto a União Europeia e Portugal não conseguirem resolver a especulação no preço das matérias-primas e o bloqueio Indústria / distribuição que congela o preço ao produtor, será o desastre final reduzir as ajudas ao produtor de leite, tal como está previsto na reforma da PAC para 2014-2020.
Os produtores de leite orgulham-se do trabalho diário que desenvolvem e querem continuar a fornecer leite saudável, manter a paisagem verde, as aldeias vivas e preservar o meio rural. São milhares de famílias a trabalhar directa e indirectamente para que outras famílias possam dispor diariamente dos nossos produtos. Em tempos de incerteza, Portugal precisa manter a soberania alimentar, através de uma produção próxima, reconhecida e que crie valor no país. Em 2012, os produtores de leite e a APROLEP continuarão a trabalhar, disponíveis a colaborar com todos as pessoas de boa vontade para, em conjunto, melhorar o sector de leite de Portugal.
17-11-2011 PRODUÇÃO DE LEITE: 40 MILHÕES DE PREJUÍZO, MAIS DE 100 MILHÕES EM DÍVIDA A FORNECEDORES
A APROLEP, Associação dos Produtores de Portugal, congratula-se com o nascimento da PARCA – Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agro-alimentar, esperando que esta seja uma resposta efectiva para a nossa reivindicação de sentar à mesa produção, indústria e distribuição. Fazemos votos de que sejam rapidamente atingidos os objectivos de “identificar problemas, propor soluções para gerar mais transparência nas relações entre as partes e conduzir a uma melhor distribuição na cadeia de valor” na fileira do leite e nas restantes fileiras.
Os produtores foram até hoje as maiores vítimas da guerra entre indústria e distribuição. A situação agrava-se a cada dia que passa. Calculamos que nos primeiros nove meses de 2011 os produtores de leite portugueses perderam 40 milhões de euros, considerando que vendemos o leite a um preço médio de 31 cêntimos/kg (dados do GPP do MAMAOT para o continente) e tivemos um custo estimado de 34 cêntimos/kg (estudo publicado na revista “Produtores de leite” nº4). Mantém-se o ritmo de abandono de produtores e aumentam as dívidas a fornecedores, que estimamos ultrapassarem já 100 milhões de euros, sem contar as dívidas contraídas na Banca, para investimentos e fundo de maneio.
Dada a urgência do problema, apelamos aos diversos intervenientes para que não se repita o arremesso de argumentos sobre quem fez o quê no passado ou quem atirou a primeira pedra, mas que se procurem rapidamente soluções positivas para ultrapassar os estrangulamentos actuais. Nesse sentido, sugerimos que se sigam os bons exemplos do “comércio justo” e que se procure desenvolver contratos indexando o valor do produto à evolução dos custos de produção, o que corresponde, no caso do leite, a indexar o valor da venda à evolução dos custos de rações, fertilizantes e energia.
Precisamos de atingir rapidamente um preço justo, capaz de cobrir os custos de produção, para garantir a segurança alimentar de Portugal e o futuro económico e social do meio rural, de forma sustentável.
27-10-2011 REFORMA DA PAC NÃO PROMOVE FUTURO DE LEITE PORTUGUÊS!
A análise de conjuntura divulgada recentemente pela comissão europeia relativa ao mês de Agosto demonstra que o preço do leite ao produtor em
Portugal (0,305€/kg) permaneceu 3,9 cêntimos abaixo da média comunitária (0,344€/kg). No gráfico dos 27 estados-membros, apenas 5 países da Europa de
Leste tem preços inferiores a Portugal.
Esta diferença de preços é agravada pela diferença de apoios recebidos da PAC. Portugal recebe actualmente 154€/ha de Superfície Agrícola enquanto a média comunitária é 251€/ha (Dados Mamaot). No caso do leite o diferencial face à agricultura no norte europeu é ainda agravado pelo facto da produção portuguesa
estar concentrada em regiões de minifúndio, com pouca área, parcelas mais pequenas e difíceis de trabalhar. Apesar disso, face aos preços baixos e
elevados custos de produção, as ajudas recebidas são muitas vezes superiores ao resultado da exploração leiteira, conforme indicaram vários Técnicos Oficiais de Contas na última edição da Revista Produtores de Leite.
A combinação destes dois factores explica certamente a baixa de produção (-0,4%) registada entre Abril e Julho de 2011, face a 2010. Lamentavelmente, a proposta de reforma da PAC pós-2013 não responde às dificuldades actuais dos produtores nem promove o futuro da produção de leite em Portugal, porque:
– Não propõem qualquer iniciativa face à especulação nos preços dos cereais utilizados na alimentação animal, que representam 60% dos gastos de produção;
– Não apresenta caminhos para um maior equilíbrio de rendimentos entre Produção, Indústria e Distribuição;
– Não prolonga o regime de quotas leiteiras nem apresenta qualquer sistema alternativo para estabilizar a produção.
Sobre a questão de quotas leiteiras, concordámos que Portugal deve insistir na defesa deste regime, tendo em conta que os estudos disponíveis indicam que o fim deste sistema será negativo para o nosso país. Contudo, face à falta de apoio sentido a nível europeu na defesa das quotas leiteiras, consideramos que é urgente preparar um “Plano B” para a sobrevivência do sector sem quotas que, no entender da APROLEP, não pode depender apenas pela distribuição de “migalhas” da mesa de Bruxelas, mas deve passar pelo aumento da competitividade das explorações agrícolas, pela racionalização do sistema de recolha e transformação, pela melhor valorização dos produtos transformados e pela fidelização do consumidor português para os produtos nacionais, o que só será possível com a colaboração positiva da indústria e das cadeias de distribuição.
18-08-2011 NÃO AO AUMENTO DO IVA NOS ALIMENTOS! SIM À VALORIZAÇÃO DO LEITE PORTUGUÊS!
O preço do leite ao produtor permanece em Portugal abaixo da média comunitária. Dados recentemente divulgados relativos ao mês de Junho indicaram um preço de 0,346€/ kg de leite pago na média das principais indústrias europeias, enquanto em Portugal o valor foi apenas de 0,31€ no continente e 0,295 nos Açores (dados do MAMAOT).
Esta diferença de preços é agravada por uma diferença de custos de produção, superiores em Portugal, devido à reduzida dimensão dos terrenos, despesas com irrigação das culturas e menores ajudas recebidas por litro de leite, o que tem conduzido ao encerramento de muitas explorações pecuárias e à asfixia financeira das que resistem.
Esperamos que o governo promova rapidamente o diálogo necessário entre a Distribuição e a Indústria para que baixem as importações e seja melhor valorizado o leite português.
Pelo contrário, aumentar o IVA nos produtos alimentares, nomeadamente leite e lacticínios, provocará uma redução do consumo de produtos nacionais e aumentará a pressão exercida pelas superfícies comerciais para obter descontos nos fornecedores, afectando mais uma vez os produtores, o elo mais fraco da cadeia.
18-06-2011 COMUNICADO SOBRE A REALIDADE E FICÇÃO NA AGRICULTURA DE PORTUGAL
A APROLEP, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, saúda publicamente a nova Ministra da Agricultura, Drª Assunção Cristas, a quem deseja as maiores felicidades nas tarefas que vai assumir em breve.
Apesar de não estar ainda em funções, a futura Ministra pode começar já a observar as diferenças entre a aparência e a realidade da agricultura portuguesa. Com efeito, realiza-se hoje no centro de Lisboa um evento de “apoio à produção agrícola nacional”, promovido por uma das principais cadeias de distribuição. Será certamente uma festa bonita, bem organizada e agradável de visitar, permitindo um contacto dos visitantes com plantas e animais que estão na origem de alguns alimentos consumidos.
Contudo, os governantes e todos os portugueses não podem deixar-se iludir por essa “montra” ou por campanhas publicitárias de outros supermercados que anunciam o “melhor de Portugal” mas são também os maiores importadores de alimentos, nomeadamente leite e lacticínios para as suas marcas brancas (100 milhões de euros só no primeiro trimestre de 2011!), apesar de em Portugal se produzir leite de qualidade e em quantidade suficiente para o consumo do país. Os portugueses que desejam apoiar a produção nacional e consumir produtos portugueses devem observar com atenção se as embalagens de leite ou lacticínios que adquirem têm o símbolo (PT).
Lamentámos ainda informar que por causa do baixo preço recebido, a produção de leite em Portugal não vive qualquer clima de festa. Pelo contrário, reinam o desânimo, a revolta e angústia face aos elevados custos de produção, às dívidas que aumentam, animais que começam a passar fome e vacarias que acabam por fechar.
Apesar de todos os apelos lançados pelos produtores, apesar de todos os partidos políticos terem reconhecido a justiça da nossa luta, apesar das boas intenções afirmadas pela indústria transformadora e pelos hipermercados, os produtores não tiveram qualquer aumento no preço, nem quando estiveram na rua nem quando se remeteram ao silêncio e regressaram aos campos para as sementeiras de primavera, aumentando ainda mais as suas dívidas. Por trás de bonitas declarações, canções, exposições ou campanhas publicitárias, a realidade é triste e preocupante.
26-04-2011 RECONHECER E DEFENDER A PRODUÇÃO DE LEITE QUE RESIDE EM PORTUGAL
A Assembleia da República aprovou recentemente uma resolução que Institui o “Dia da Produção Nacional” a 26 de Abril, sendo referido que “as situações que estão a ocorrer periodicamente no planeta exigem, por parte dos países, um reforço e manutenção do sistema de produção nacional, com particular incidência na agricultura e nas pescas”.
Para os produtores de leite que resistem em Portugal, este será mais um dia de intenso trabalho para cultivar a terra e cuidar dos animais da mesma forma que o fazem todos os dias do ano, haja ou não tolerância de ponto ou fim-de-semana prolongado. Contudo, tendo em conta, tal como afirma a resolução, que este dia deve “contribuir para o reconhecimento da produção nacional junto dos consumidores portugueses”, entende a Direcção da APROLEP reafirmar a necessidade de implementar rapidamente um sistema de Rotulagem e rastreabilidade do leite e lacticínios que permita aos consumidores saber com clareza que os produtos adquiridos provém de leite de qualidade produzido em Portugal.
Neste período pré-eleitoral, os portugueses estarão certamente atentos às propostas dos diversos partidos para um sector estratégico como é a agricultura, atendendo à necessidade de garantir a segurança alimentar do país, ocupar o território e reduzir o défice comercial. Os produtores de leite estarão particularmente atentos às propostas apresentadas sobre a reforma da PAC, esperando que os apoios disponíveis sejam destinados aos agricultores activos que efectivamente produzem. Mais importante ainda será a definição de mecanismos contra a especulação no custo das matérias-primas da alimentação animal, a manutenção das quotas leiteiras e um maior equilíbrio negocial entre produtores, indústria e distribuição, que permita valorizar o nosso trabalho e a nossa produção num preço justo. De facto, apesar dos brutais aumentos dos custos de produção, ainda não foi possível actualizar o preço do leite ao produtor e sem esse aumento a produção de leite não é viável em Portugal. Sublinhamos também a necessidade de simplificar o licenciamento das explorações pecuárias e o acesso aos fundos de apoio para investimento e instalação de jovens produtores de leite.
Já fomos 80000 produtores em Portugal, agora resistimos 8000, quase todos em dificuldades. É tempo de travar este abandono de produção. O futuro do sector de leite não pode depender da meia dúzia de vacarias que podem sobreviver nas actuais condições. O mundo evolui, as condições alteram-se e as melhores explorações de hoje podem falhar amanhã. Portugal precisa de um sector leiteiro que funcione como ecossistema em equilíbrio entre produção, transformação, distribuição e consumo.
A Direcção da APROLEP
01-04-2011 CONSTRUIR O FUTURO DO LEITE PORTUGUÊS
Chegámos ao mês de Abril e a generalidade dos produtores de leite portugueses continua sem qualquer aumento do preço do leite. Temos agora pela frente muito trabalho e despesas com fenos, silagens de erva e sementeiras do milho silagem, os principais alimentos das vacas leiteiras. Teremos de gastar muito dinheiro em sementes, pesticidas, adubos e gasóleo para realizar todos os trabalhos culturais. Estando os produtores de leite endividados e os fornecedores e instituições bancárias com crédito limitado, é quase certo que ficarão muitas terras por semear e aumentará o número de abandonos da actividade.
Recorde-se que desde 2008 se registam quebras na produção de leite em Portugal, devido às dificuldades dos produtores. De acordo com os últimos dados divulgados pelo IFAP, ocorreu uma redução na produção de 2,36% entre Abril 2010 e Janeiro 2011, menos 36364 toneladas, em comparação com igual período do ano anterior.
No momento em que o país se confronta com enormes dificuldades de financiamento nos mercados internacionais, devemos recordar também que a importação de produtos lácteos de valor acrescentado representa um défice comercial de quase 200 milhões de euros, que poderá ser reduzido se a distribuição disponibilizar aos consumidores produtos de origem portuguesa. Os consumidores certamente compreenderão que a compra de leite e lacticínios portugueses, sendo dinheiro que fica em Portugal, significa valor para a economia nacional, criação de emprego e ocupação do território, enquanto a importação de lacticínios é dinheiro que sai do país agravando o défice externo.
Recorde-se ainda que os produtores de leite portugueses, comparativamente aos colegas do Norte da Europa, têm custos acrescidos com a rega das culturas, trabalho em parcelas dispersas e de menor dimensão e subsídios inferiores a países como França ou Alemanha, por injustiças históricas da PAC. Com estes custos naturais superiores e apoios inferiores não é possível suportar um preço que nos últimos meses foi sucessivamente inferior à média europeia. Sublinhe-se que o principal problema não é a diferença entre países, mas a diferença entre o custo de produzir e a receita de vender um litro de leite. Com o preço actual, não é viável produzir leite em Portugal. Só um aumento significativo do preço ao produtor pode salvar a produção de leite. É esse o único propósito que move a APROLEP. Continuaremos a trabalhar de forma construtiva pela valorização do leite português, conscientes que só o esforço e a atitude construtiva de todos os intervenientes neste processo, Produção, Governo, Indústria e Distribuição, tornarão possível o futuro da produção de leite em Portugal.
A Direcção da APROLEP
18-03-2011 CONFERÊNCIA DE IMPRENSA SOBRE O FUTURO DA PRODUÇÃO DE LEITE EM PORTUGAL
Realizou-se uma conferência de imprensa nasexta-feira, dia 18 de Março de 2011, às 10h30, na Exploração Agrícola do Sr. Moreira da Silva em Mosteiró, Vila do Conde. Trata-se do caso concreto de uma entre milhares de vacarias que fecharam devido ao baixo preço do leite e cujo exemplo será seguido pelas restantes explorações se não houver mudanças com urgência. Nesta conferência de imprensa pretendemos expôs-se o seguinte:
1) A PRODUÇÃO DE LEITE EM PORTUGAL ESTÁ EM RISCO
Em 1993, existiam em Portugal cerca de 84000 produtores de leite; Em 2010 restavam apenas 8400. Em 1983, havia 1300 produtores no concelho de Vila do Conde, restam 300. Há 10 anos, havia 14 produtores na freguesia de Mosteiró, sobrevivem 3 no presente.
Ao logo de décadas, a desistência de produtores foi compensada pelo aumento de dimensão das explorações que permaneceram e da produtividade por animal. Contudo, desde 2008 a situação alterou-se, registando-se a quebras na produção de leite em Portugal, devido às dificuldades dos produtores. De acordo com os últimos dados divulgados pelo IFAP, na última campanha registou-se uma redução na produção de 2,38% entre Abril e Dezembro de 2010 (menos 33076 toneladas), comparativamente a idêntico período do ano anterior, em cuja campanha (Abril 2009 – Março 2010) também já tinha sido registada uma redução de 2,77% (menos 52660 toneladas de leite produzido).
2) O DÉFICE COMERCIAL NOS PRODUTOS LÁCTEOS PREJUDICA O PAÍS
Em 2010 importámos 6282 milhões de euros de produtos alimentares de origem agrícola e exportámos 3284 milhões de euros.
Dados do INE estimam que em 2010 terá ocorrido a importação de 353.417 toneladas de leite lacticínios, no valor de 462 milhões de euros; As principais rubricas de importação foram iogurtes (146 milhões de euros) e queijos (140 milhões de euros); No sentido inverso, Portugal terá exportado 317.448 toneladas num valor de apenas 269 milhões de euros. Assim, apesar das exportações quase equilibrarem as importações em quantidade, regista-se um saldo comercial negativo de 193 milhões de euros, dinheiro que certamente seria mais útil se fosse injectado na economia nacional, circulando entre indústria, cooperativas, produtores e seus fornecedores. Atente-se ainda que a importação, além dos custos económicos e sociais, implica um levado consumo de combustíveis, com todo o impacto ambiental conhecido.
3) ALGUMAS PERGUNTAS QUE CONTINUAM SEM RESPOSTA:
Porque se regista a importação de leite e produtos lácteos para as marcas brancas dos hipermercados, quando o preço ao produtor em Portugal (Janeiro: 0,31€ no continente e 0,28 nos Açores) é inferior à média comunitária (Janeiro: 0,33€) e ainda acrescem os custos de transporte?
Porque é que essa importação acontece nos produtos de maior valor acrescentado?
É assim que a Distribuição apoia a produção alimentar em Portugal?
Estão os portugueses conscientes que a compra de leite e lacticínios portugueses significa valor para a economia nacional, criação de emprego e ocupação do território, enquanto a importação de lacticínios agrava o défice comercial?
Porque não subiu ainda o preço do leite ao produtor em Portugal, se Indústria e Distribuição sabem das dificuldades dos Produtores?
Quantas vacarias terão ainda de fechar até que o país acorde para a situação dramática do sector?
As organizações :
Associação dos Agricultores de Vila do Conde
AJADP – Associação dos Jovens Agricultores do Distrito do Porto
APROLEP – Associação dos Produtores de Leite de Portugal
14-03-2011 APELO AO BOM SENSO DOS CAMIONISTAS EM GREVE
A APROLEP, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, vem por este meio alertar para graves dificuldades que a presente greve nos transportes pode causar no sector da Agro-pecuária. Temos conhecimento de várias vacarias que não receberam os alimentos para animais cuja entrega estava prevista para hoje e vários motoristas de recolha do leite relataram ter recebido ameaças. A situação nos alimentos compostos pode tornar-se crítica a manter-se o bloqueio dos silos de cereais no Porto de Leixões.
Nós, agricultores e produtores de leite, compreendemos as dificuldades do sector dos transportes, porque sofremos também aumentos de rações, combustíveis e adubos nos últimos meses, sem repercussão no preço final do nosso produto. Contudo, apelamos ao bom senso dos piquetes de greve para que permitam a passagem de alimentos para os animais e do próprio leite produzido, pois é um produto altamente perecível que tem de ser recolhido diariamente e rapidamente transportado para as fábricas para ser transformado e armazenado. Não podemos deixar os animais à fome nem deixar as vacas sem ordenhar. Na situação difícil em que o sector se encontra, seria catastrófico.
A Direcção da APROLEP
10-03-2011 A PRODUÇÃO DE LEITE E O DEBATE PARLAMENTAR SOBRE AGRICULTURA
A APROLEP aguarda com expectativa o Debate de amanhã, sexta-feira, na Assembleia da República, que contará com a presença do Sr. Ministro da Agricultura, fazendo votos que os problemas actuais da produção de leite mereçam a atenção necessária e um debate construtivo. Com efeito, apesar dos sucessivos alertas lançados por diversas organizações de produtores, apesar das manifestações entretanto realizadas, apesar da preocupação expressa por Governo e Oposição, os produtores não receberam até agora qualquer indicação do aumento urgente do preço do leite que precisam para sobreviver.
Compreendemos que não compete ao Governo ou Assembleia da República definir o preço do leite, mas exigimos que o Estado assuma uma das incumbências prioritárias referidas no artigo 81, alínea f) da Constituição da República Portuguesa: “Assegurar o funcionamento eficiente dos mercados, de modo a garantir a equilibrada concorrência entre as empresas, a contrariar as formas de organização monopolistas e a reprimir os abusos de posição dominante e outras práticas lesivas do interesse geral”. Não esperamos que seja o Estado a marcar golos, mas exigimos que assuma o papel de árbitro que lhe compete.
As dificuldades dos produtores, fruto da subida exponencial dos factores de produção, nomeadamente rações, adubos e combustíveis, são reconhecidas e incontestadas; É também evidente que o necessário aumento do preço do leite ao produtor depende de uma negociação efectiva e construtiva entre Indústria e Distribuição que tarda em acontecer. A necessidade de reforçar o poder a posição negocial dos produtores foi também reconhecida a nível europeu, com a agravante de Portugal, tal como Espanha, registar actualmente um preço abaixo da média comunitária. A Autoridade da Concorrência reconheceu as dificuldades dos produtores e a posição dominante da Distribuição mas fez apenas vagas constatações e recomendações de que desconhecemos resultados práticos.
Antes que seja tarde, o poder político tem de assumir o seu papel regulador. O mundo vive actualmente uma crise alimentar que poderá afectar sobretudo os países importadores de alimentos como Portugal. Se não conseguirmos rapidamente equilibrar a fileira do leite, se não conseguirmos uma repartição de margens mais justa entre Produtores, Indústria e Distribuição, Portugal passará em breve a ser também deficitário neste sector até agora auto-suficiente. Estão em causa a soberania e a segurança alimentar do país. Depois não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
A Direcção da APROLEP